Criado em maio de 2006 pelo músico, compositor, percussionista e arte-educador Déo Lembá, o grupo foi inicialmente formado com a finalidade de montar um espetáculo musical, inspirado na cultura afro-brasileira de origem Bantu e particularmente na “lenda da árvore sagrada”, que conta a criação do berimbau. A proposta foi apontar a cultura popular brasileira como um caminho à ecologia social e a uma postura ético-estética na vivência da natureza individual e coletiva, percebendo estes como temas urgentes frente ao atual contexto histórico-cultural.
O processo de montagem buscou ter um caráter coletivo e de politização, levantando questões sobre a maneira como o homem vive ainda hoje no planeta e discutindo valores da sociedade atual. Propôs uma mudança de paradigmas para frear o crescimento da corrupção, da mentira, da exploração, da dominação, da produção de marginalidade opressiva, da angústia, da depressão e da neurose em nome do lucro e do poder. Para Déo Lembá “nossas neuroses individuais que fazem com que a gente se enclausure, fique na individualidade, não queira estar aberto para o dialogo, o convívio, a construção”.
Déo Lembá também considera a revolução social um processo que passa pela subjetividade e pela participação. Acredita que a transformação social se dá na vida cotidiana: “esse sonho de um mundo mais justo e feliz começa numa ética do comportamento amoroso, familiar e produtivo, com uma revolução nas relações sociais, buscando a transformação do cotidiano das pessoas e uma mudança de valores”.
Lembá baseou-se na TAZ (Zona Autônoma Temporária), de Hakin Bay, para propor a formação de uma espécie de “quilombo urbano” como uma alternativa de organização a partir de um levante, um impulso para uma produção artística auto-gestiva, procurando ativar a inteligência e a sensibilidade de artistas para a capacidade atual de organização coletiva. O objetivo era fortalecer a originalidade e a autonomia de cada indivíduo no cotidiano, uma vez que estas são vistas como “armas” capazes de acabar com o poder depredador de autoritários e garantir a preservação da espécie humana e do meio ambiente frente a um mundo injusto e doente.
A arte foi o caminho escolhido para catalisar essa revolução da sociedade, justamente porque é de sua natureza criar e despertar a afetividade, alterando a forma como o sujeito significa o mundo que o cerca.
Foi proposto um roteiro como ponto de partida para as criações do grupo. Foram utilizados jogos teatrais, exercícios bioenergéticos, dinâmicas de grupo, rituais da cultura popular brasileira e laboratórios de criação para pesquisa e construção das cenas.
Capoeira Angola
A Capoeira de Angola foi introduzida como trabalho de integração corporal, expressão cênica e preparação do elenco por sua característica de ensinar aos “artistas fragmentados” a brincar, dançar, lutar, cantar, interpretar, fazer e tocar instrumentos. Além disso, segundo Déo, “A capoeira é um super exercício auto-gestivo. A própria roda de capoeira é um trabalho de auto-gestão, porque quando eu largo o berimbau e passo para outro, o outro já está cantando, o outro já está jogando, já está tocando. Aí, troca o que estava no berimbau e vai para o pandeiro, o que estava no pandeiro vai jogar, o que estava jogando vai cantar, entendeu? Auto-gestivamente. Então cada um esta numa função em determinado momento, mas está botando a sua energia na roda ou cantando, ou tocando instrumento, ou jogando capoeira, está todo mundo ali, presente e responsável por ela”.
Desbloqueio Corporal
Outra técnica utilizada na montagem foi a Música Orgânica, que usa o próprio corpo e a voz como fonte de ritmos e sons, proporcionando formas musicais associadas a movimentos corporais. Criar uma música implica a possibilidade de articulação entre o conhecimento técnico, a transformação das emoções, a imaginação e a reflexão, a partir dos elementos do som e do silêncio presentes no mundo, em função do ainda não existente. Essas e outras práticas foram usadas, principalmente, como meios de desbloqueio corporal.