O musical Árvore Sagrada foi criado coletivamente, em Florianópolis, através oficinas e ensaios com jovens artistas amadores.
Esse grupo, formado em junho de 2006, foi o ponto de partida para um trabalho de capoeira, dança afro, teatro e canto. Todos os integrantes são intérpretes-criadores do espetáculo, o que deixa claro o caráter educativo do trabalho, tanto em relação ao público como em relação ao próprio elenco . Isso possibilitou trazer as indignações, as necessidades, os sonhos de cada um dos participantes do grupo para a dramaturgia.
A trilha sonora é resultado de um trabalho de pesquisa e composição feita por Déo Lembá. Envolve música orgânica, que usa o corpo e a voz dos intérpretes como fonte de ritmos e sons, ritmos afro-brasileiros e coro cênico. O coro será acompanhado por violão, piano, flauta, sax, baixo e percussão, além de instrumentos confeccionados pelo próprio grupo. Ao explorar mantras polifônicos africanos ao som do berimbau, o grupo cria imagens sonoras para representar cenas, como da escravidão, de uma tribo primitiva ou uma grande tempestade.
O projeto foi aprovado pela Fundação Catarinense de Cultura e contou inicialmente com o apoio do FunCultural da Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte.
O ter e o ser
O espetáculo fala da grande tragédia humana que é a escravidão do homem pelo próprio homem. Que pode ser tanto a escravidão do negro pelo branco, quanto de todos os homens e mulheres do mundo contemporâneo pelo dinheiro. Em ambos os casos a escravidão é comandada pela ganância e pelo autoritarismo de alguns, que se preocupam apenas em possuir, e para isso subjugam os demais.
O musical Árvore Sagrada propõe a retomada da harmonia entre o ser humano e a natureza como caminho para a libertação. O berimbau e a capoeira são símbolos de uma experiência coletiva e de uma cultura de resistência e auto conhecimento. A essência do espetáculo é essa busca do ser, da originalidade, de cada um se reconhecer dentro dessa sociedade massificante. Isso pode ser feito através da arte.
"Quando somos pequenos recebemos uma visão de mundo que nos ensina a estudar, trabalhar, ter, consumir. Não somos educados a descobrir o que gostamos de fazer. Já no final da vida, alguns percebem que deixaram de fazer o que lhes dava prazer, deixaram de estar com os amigos, com os filhos, com a natureza. Descobrem também que o dinheiro acumulado durante décadas pode estar sendo gasto para curar doenças contraídas nessa ânsia de ter. A gente propõe a troca desse referencial, trocar o 'ter' pelo 'ser'. Não somos contra ter, pois isso é necessário até mesmo para viabilizar nossos projetos nessa sociedade, mas esse não pode ser o foco de nossas vidas. E isso precisa ser ensinado desde pequeno, para as crianças, pois é dali que se formam as visões de mundo. Ter sem ser não adianta nada”, explica Déo Lembá.